quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Entrevista do Presidente do L.G.C. Manuel Porta ao Jornal "Registo"

O Lusitano de Évora, um dos históricos clubes do Alentejo, que nos anos 50 e 60 permaneceu 14 épocas na primeira Divisão, atravessa uma crise sem precedentes ao ponto de este ano ter suspendido o futebol sénior.
A cerca de dois meses de completar 100 anos de existência, o Lusitano está com uma dividida 800 mil euros e, como se não bastasse, não possui património. “Fruto da gestão das duas direcções anteriores o Lusitano não tem neste momento nem dinheiro nem património” esclarece Manuel Porta, presidente da direcção dos verde-e-brancos. Segundo Manuel Porta, a situação do clube é muito grave. “O Campo Estrela, onde a grande história do nosso clube foi sendo escrita ao longo dos anos, já não é nosso e o Campo da Silveirinha pertence a uma sociedade que é a Evoraurbe”. Recorde-se que o Campo da Silveirinha foi construído por ocasião do está- gio de preparação da Selecção Nacional antes do Mundial da Alemanha, entrando o Campo Estrela como contrapartida para um negócio imobiliário.

Manuel Porta vê-se agora a braços com uma divida de quase um milhão de euros e a poucos dias de celebrar o centenário o Lusitano corre o sério risco de desaparecer do espectro desportivo.
“Não sou céptico ao ponto de dizer que o futuro passa pelo fechar de portas, mas é bom que os sócios tenham a noção de que a situação é muito grave”, acrescenta Manuel Porta.
“Nós pedimos a colaboração a especialistas de gestão que nos apontassem o caminho certo e enquanto não tivermos na nossa posse o resultado desse estudo não poderemos chegar a nenhuma conclusão. Gostava, no entanto, de no dia 11 de Novembro apresentar alguma solução aos sócios”, refere o dirigente.

O Lusitano Ginásio Clube terminou a época passada no segundo lugar da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Évora, contudo esta época “não foi possível encontrar orçamento e decidimos suspender este escalão”, o que acontece pela primeira vez em 99 anos.
Com cerca de 2800 sócios, dos quais apenas 900 pagam habitualmente as quotas, o Lusitano tem aproximadamente 200 atletas em diversos escalões de formação.
A Escola de Futebol do clube desenvolve toda actividade de uma forma autónoma na Herdade da Silveirinha, enquanto que os restantes escalões treinam e jogam no Campo Estrela. “É uma forma de tentar cativar novamente os associados”, diz, esperançado, Manuel Porta.

A pouco dias de completar cem anos de existência, o Lusitano de Évora está à beira desaparecer do espectro desportivo nacional, mergulhado em dívidas e o primeiro reflexo desta situação é a ausência do clube das competições sénior.

Fundado a 11 de Novembro de 1911, já participou em todas as provas do futebol português, sendo de destacar as catorze épocas consecutivas no Campeonato Nacional da 1ª Divisão nos anos 50 e primeira metade da década seguinte onde alcançou um quinto lugar, bem como uma presença nas meias-finais da Taça de Portugal, entre outras classificações.

O cenário de glória deu agora lugar à tristeza e ao desapontamento. “É triste recordar a nossa presença na 1ª Divisão e ver o clube à beira do precipício”, diz Carlos Falé, um dos jogadores que disputou o escalão maior do futebol luso com a camisola do Lusitano. Este defesa-central, agora com 78 anos, não tem dúvidas em afirmar que o clube “tem os dias contados. Já foi um grande clube e agora é o que se sabe. A presença da Selecção Nacional em Évora deu cabo do Lusitano devido aos negócios que se fizeram”, afirma o antigo jogador.

Sempre disponível em colaborar com os dirigentes do clube, Falé acredita que com o regresso dos escalões de futebol ao Campo Estrela fará com que os adeptos e os simpatizantes voltem ao clube. “Se tal não suceder então o clube acaba aos 100 anos”, significando uma grande perda para o desporto local e para o património histórico da cidade e da região.

Depois dos anos onde um grupo de empresários se mostrou disponível a levantar o clube até aos escalões superiores, que levou inclusive à presença nos órgãos directivos de João Manuel Nabeiro, filho do Comendador Rui Nabeiro e presidente da Delta Cafés - após a experiência do Campomaiorense na 1ª Divisão - as tentativas de trazer o “velho Lusitano” de volta foram-se esvanecendo, chegando à situação crítica em que hoje se encontra - sem uma luz ao fundo do túnel.